O passeio de trem pela Serra do Mar Paranaense é uma aventura sobre os trilhos de uma ferrovia construída na década de 80, em meio a mata atlântica, que oferece paisagens naturais impressionantes.

A empresa que promove a experiência é a Serra Verde Express e o bilhete pode ser adquirido somente para um trecho ou ida e volta. O trem parte da Rodoferroviária de Curitiba às 8:30hs e de Morretes às 15:00hs e são ofertadas 7 classes: econômica, turística, camarote, imperial, litorina luxo, barão do serro azul e pet friendly. A viagem dura em média 4 horas, mas isso é uma estimativa, pois depende muito do número de paradas que o trem precisará fazer durante o percurso de 70 km, considerando que o trilho é compartilhado com trens de carga.

Optei por fazer o trecho Curitiba/Morretes de ônibus e Morretes/Curitiba de trem. Adquiri o bilhete do trem antecipadamente através do site da Serra Verde Express, pois as poltronas da classe econômica são bastante disputadas, já que o valor (atual) é de R$26,00 por trecho. A passagem de ônibus foi comprada na chegada a Curitiba e também paguei menos de R$30,00.
Há vários horários de ônibus da capital paranaense para Morretes e alguns deles passam pela Estrada da Graciosa, uma antiga trilha indígena, hoje calçada e cercada por hortências, que conta com um mirante onde o ônibus faz uma parada rápida. Para quem estiver usando meio de locomoção próprio, no trajeto há quiosques onde é possível passar o dia ou fazer uma parada para lanche.
Eu não havia pesquisado sobre essa estrada antes, mas quando fiz a consulta de horários no site da empresa foi algo que me chamou atenção, pois o valor da passagem é o mesmo, mas a linha “via Estrada da Graciosa” leva mais tempo. Quando cheguei ao guichê da Viação Graciosa para comprar a passagem perguntei ao atendente se tratava-se de uma estrada turística, mas ele não soube informar, porém decidi seguir minha intuição e gostei bastante do trajeto.
Cheguei a Morretes por volta de 10:30hs e como sou apaixonada por montanhas fiquei encantada admirando a geografia do lugar enquanto caminhava da rodoviária até a área central.
Morretes é uma cidade pequena e acolhedora fundada em 1733. Seu centro histórico conta com ruas estreitas rodeadas por casarões antigos conservados, áreas verdes para descanso, lojinhas, restaurantes, uma ponte de ferro construída em 1912 e a Igreja Matriz Nossa Senhora do Porto inaugurada em 1850.


O desenvolvimento da cidade teve origem às margens do rio Nhundiaquara que nasce no Parque Estadual Pico do Marumbi e foi utilizado no passado por navegações de médio porte para transporte de mercadorias.

Em Morretes é comum encontrar em quase todos os restaurantes o famoso Barreado, um prato típico do litoral paranaense. O principal ingrediente do Barreado é a carne bovina e como sou vegetariana não provei, mas conversando com locais entendi que para eles o preparo do prato é uma espécie de ritual açoriano que passa de geração para geração.
A carne e mais uma porção de toucinho de porco são temperadas com cebola, alho, pimenta do reino, louro e cominho e cozidas durante 20 horas em panela de barro, até desfiar. Ao caldo da carne desfiada é misturada a farinha de mandioca e servido com arroz e banana da terra em fatias. Os portugueses trouxeram a receita para o Brasil, mas o prato também é preparado na Espanha e Inglaterra, com algumas particularidades locais.
Depois de curtir a vibe histórica, cultural e gastronômica de Morretes andei até a estação de trem onde começaria a última parte do passeio, mas antes de relatar como foi a experiência de trem no trecho Morretes/Curitiba vou contar uma historinha em relação ao bilhete que eu adquiri quase um mês antes do passeio.
Estava eu na casa de minha mãe quando contei que havia comprado a poltrona da classe econômica do lado esquerdo do vagão do trem. Ela havia feito o passeio recentemente e ao ver algumas fotos feitas por ela do lado direito do vagão percebi que a melhor vista do vale estava daquele lado e entrei em contato com a empresa para tentar fazer a troca da poltrona.
Como mencionei antes, as poltronas da classe econômica são bastante procuradas, então quando fiz contato com a empresa já não havia muitas opções do lado direito do vagão, ou melhor, restavam apenas duas poltronas disponíveis na janela, a primeira e a última.
Decidi não fazer a troca, apesar de ter duas opções, e ainda disse algo do tipo “vai ser bom assim mesmo” já que a vista do lado esquerdo também era linda, de acordo com as fotos que eu havia visto.

Agora vem a segunda parte da história. Chegando à estação percebi que grupos de estudantes acompanhados de seus monitores começavam a chegar para também fazer o passeio de trem.
Poucos minutos antes das 15hs começamos a nos organizar para entrar no trem, seguindo os guias de cada vagão que carregavam uma placa com o número do mesmo. Número este que também estava no bilhete de embarque. Mas ao entrar no trem fui surpreendida com uma ótima notícia…
Já que havia muitos estudantes na classe econômica e vagões da classe turística disponíveis, recebemos um presente e fomos alocados em um desses vagões, onde a minha poltrona ficou do lado direito. Mais tarde o guia nos explicou com mais detalhes o motivo e os benefícios da mudança, já que no vagão da classe econômica iríamos ficar de costas, as janelas são menores e as poltronas não são tão confortáveis.
Poucos minutos depois de receber esta ótima notícia o trem com destino a Curitiba partiu e já nos primeiros quilômetros nos deparamos com ruínas de antigas estações e com as belezas naturais que cercam a ferrovia.

A ferrovia Paranaguá-Curitiba tem 110 km de extensão e começou a ser construída em 1880 sob dúvidas que seria finalizada, considerando o grau de dificuldade envolvido. Depois de concluída a ferrovia passou a ser chamada de “obra de arte da engenharia” e sua viagem inaugural foi feita pela Princesa Isabel em 1885.
No trecho Morretes-Paranaguá não circulam mais trens de passageiros, apenas trens que levam carga até o Porto de Paranaguá.
O sinuoso trajeto de Curitiba-Morretes é considerado um dos mais belos do mundo. Os trilhos são cercados pela mata atlântica da Serra do Mar Paranaense, um dos 5 biomas mais ricos do planeta, oferecendo uma experiência única de imersão na natureza com uma linda vista dos vales, cachoeiras e montanhas. Os trilhos passam por 30 pontes, sobre infinitos precipícios, 13 túneis e muitos viadutos.

No dia em que fiz o passeio estava um pouco nublado e havia muita neblina, dando a impressão que o trem, literalmente, cortava as nuvens, especialmente ao passar sobre as pontes. As paisagens são realmente incríveis e não é possível demonstrar sua grandiosidade através das fotos, é preciso ver ao vivo para entender.
Sem dúvida foi uma experiência que superou as minhas expectativas e recomendo a todos que apreciam a natureza e as grandes obras humanas.

Este é o trigésimo relato que escrevo para o meu blog, compartilhando experiências como viajante solo nesses anos de estrada. Hoje posso afirmar que cada uma delas tem mostrado algo sobre mim que eu ainda não havia considerado. Sigo deixando que o meu coração escolha o próximo destino, a próxima aventura, e me mantenho aberta a esse mergulho no autoconhecimento.
Ficou com alguma dúvida ou gostaria de dar uma sugestão? Deixe seu comentário! 😉
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